A Visão Espírita da Bíblia

15/07/2011 0 comentários

BÍBLIA E EVANGELHO

A  Bíblia  (que  o  nome  quer  dizer simplesmente:  O  Livro)  é  na  verdade  uma biblioteca,  reunindo os  livros  diversos  da  religião  hebraica.  Representa a codificação  da primeira  revelação  do  ciclo  do  Cristianismo.  Livros  escritos  por  vários  autores  estão  nela colecionados, em número de 42. Foram todos escritos em hebraico e aramaico e traduzidos mais tarde  para  o latim,  por São Jerônimo, na conhecida Vulgata Latina, no século quinto 
da  nossa era.
  As  igrejas  católicas  e  protestantes  reuniram  a esse  livro os  Evangelhos  de 
Jesus, dando a estes o nome geral de Novo Testamento.
O Evangelho, como se costuma designar o Novo Testamento, não pertence de fato à Bíblia.
 É outro livro, escrito muito mais tarde, com a reunião dos vários escritos sobre Jesus e  seus  ensinos.  O  Evangelho  é a codificação  da  segunda  revelação  cristã.  Traz  uma  nova mensagem,  substituindo o  deus-guerreiro  da  Bíblia  pelo  deus-amor  do  Sermão  da Montanha.  No  Espiritismo  não  devemos  confundir  esses  dois  livros,  mas  devemos reconhecer  a  linha  histórica e  profética,  a  linhagem  espiritual  que  os  liga.  São,  portanto, dois livros distintos.
O Espiritismo
A antiga religião hebraica é geralmente conhecida como Mosaísmo, porque surgiu e se  desenvolveu  com  Moisés.  A  nova  religião  dos  Evangelhos  é  designada como Cristianismo, porque vem do ensino do Cristo. Mas, assim como nas páginas da Bíblia lado o  advento  do  Cristo,  também  nas  páginas  do  está anunciado o  advento  do  Espírito  de a  Verdade. Este advento  se  deu  no  século passado, com a terceira e última  revelação cristã, chamada  revelação espírita. Cinco  novos livros aparecem, então, escritos  por Kardec, mas ditados, inspirados e Orientados pelo Espírito de Verdade e outros Espíritos Superiores. Os cinco  livros  fundamentais  do  Espiritismo,  que  têm  como  base  O  Livro  dos  Espíritos, representam  a codificação  da  terceira  revelação.  Essa  revelação  se chama  Espiritismo porque foi dada pelos Espíritos. Sua finalidade é esclarecer os ensinos anteriores, de acordo com  a  mentalidade  moderna,  já  suficientemente arejada e evoluída  para entender  as alegorias  e  símbolos  contidos  na  Bíblia e  no  Evangelho.  Mas  enganam-se  os  que  pensam que a Codificação do Espiritismo contraria ou reforma o Evangelho.Visão Espírita da Bíblia                                                                         J. Herculano Pires

3 - SENTIDO HISTÓRICO DA BÍBLIA E A SUA NATUREZA PROFÉTICA

Qual  a  posição  do  Espiritismo  diante  do  problema  bíblico? Os  recentes  debates  na televisão  entre espíritas,  pastores  protestantes  e  sacerdotes  católicos,  deram motivo  a algumas  incompreensões,  de  que  se aproveitaram  adversários  pouco  escrupulosos  da Doutrina  Espírita,  para  lhe  desfecharem  novos  e  injustos  ataques.  Vamos  procurar esclarecer, por estas colunas, a posição espírita, como já havíamos prometido.
Kardec  define essa  posição,  desde  O  Livro  dos  Espíritos,  como  a  de estudo  e esclarecimento  do  texto,  à  luz  da  História e  na  perspectiva  da evolução  espiritual da Humanidade.  No  cap.  III  deste  livro,  final  do item  59,  depois  de analisar  as  contradições entre a Bíblia e as Ciências, no tocante à criação do mundo, ele declara: "Devemos concluir que a Bíblia é um erro? Não; mas que os homens se enganaram na sua interpretação".
Essas  palavras  de  Kardec,  sustentadas através  de toda a Codificação, esclarecem a posição  espírita.  Devemos  reconhecer  na  Bíblia a  sua  natureza  profética  (ou  seja: mediúnica),  encerrando  a l Revelação,  no  ciclo  histórico  das  revelações cristãs. Esse ciclo começa com Moisés  (l Revelação), define-se com Jesus  (II Revelação) e encerra-se com o Espiritismo (III Revelação). Os leitores encontrarão explicações detalhadas a respeito em O Evangelho Segundo o Espiritismo, de Allan Kardec, que é um manual de moral evangélica. 
O conceito espírita de Revelação, porém, não é o mesmo das religiões em geral. Revelar é ensinar, e isso tanto  pode  ser  feito pêlos Espíritos  (revelação divina) quanto pêlos homens (revelação humana), mas não por Deus "em pessoa", porque Deus age através de suas leis e dos  Espíritos.  A  revelação  bíblica,  portanto,  não  pode  ser chamada  de  "palavra  de Deus". 
Ela é,  apenas,  a  palavra  dos  Espíritos-Reveladores,  e essa  palavra é  sempre adequada ao tempo  em  que  foi  proferida.  Isto  é confirmado  pela  própria  Bíblia,  como  veremos  no decorrer deste estudo.
A  expressão  "a  palavra  de  Deus"  é  de  origem judaica.  Foi  naturalmente  herdada pelo Cristianismo, que a empregou para o mesmo fim dos judeus: dar autoridade à Igreja. A Bíblia,  considerada  "a  palavra  de  Deus",  reveste-se  de  um  poder  mágico:  a  sua  simples leitura, ou simplesmente a audiência dessa leitura, pode espantar o Demônio de uma pessoa e convertê-la a  Deus.  Claro  que  o  Espiritismo  não  aceita  nem  prega essa  velha crendice, 
mas não a condena. A cada um, segundo suas convicções, desde que haja boa intenção.

4 - COISAS TERRÍVEIS E INGÊNUAS FIGURAM NOS LIVROS BÍBLICOS

A  palavra  de  Deus  não  está  na Bíblia,  mas  na  natureza, traduzida em  suas leis.  A Bíblia é  simplesmente  uma coletânea  de  livros  hebraicos,  que  nos  dão  um  panorama histórico  do  judaísmo  primitivo.  Os  cinco  livros  iniciais  da  Bíblia,  que constituem  o Pentateuco mosaico, referem-se à formação e organização do povo judeu, após a libertação do Egito e a conquista de Canaã. Atribuídos a Moisés, esses livros não  foram escritos por ele, pois relatam, inclusive, a sua própria morte.
As pesquisas históricas revelam que os livros da Bíblia têm origem na literatura oral do povo judeu. Só depois do exílio na Babilônia foi que Esdras conseguiu reunir e compilar os  livros  orais  (guardados  na  memória)  e  proclamá-los  em  praça  pública como  a  lei  do judaísmo, ditada por Deus.
Os  relatos  históricos  da  Bíblia  são  ao  mesmo  tempo  ingênuos  e  terríveis.  Leia  o estudante, por exemplo, o Deuteronômio, especialmente os capítulos 23 e 28 desse livro, e Visão Espírita da Bíblia                                                                     Veja  se  Deus  podia  ditar  aquelas  regras  de  higiene  simplória,  aquelas  impiedosas  leis  de guerra total,  aquelas  maldições  horríveis  contra  os  que  não crêem  na  "sua  palavra". Essas maldições,  até  hoje,  apavoram  as criaturas simples  que  têm medo  de  duvidar  da  Bíblia. 
Muitos espertalhões se servem disso e do prestígio da Bíblia como "palavra de Deus", para arregimentar e tosquiar gostosamente vastos rebanhos.
As  leis  morais  da  Bíblia  podem  ser resumidas  nos  Dez  Mandamentos.  Mas  esses mandamentos  nada  têm  de  transcendentes.  São  regras  normais  de  vida  para  um  povo  de pastores  e agricultores,  com  pormenores  que  fazem  rir  o  homem  de  hoje.  Por  isso,  os mandamentos são  hoje apresentados em  resumo. O Espírito  que  ditou essas leis a Moisés, 
no Sinai, era  o  guia espiritual da  família de Abrão,  Isaac e Jacob, mais tarde transformado no  Deus  de  Israel.  Desempenhando  uma elevada  missão,  esse  Espírito  preparava  o  povo judeu para  o  monoteísmo,  a crença  num  só  Deus,  pois  os  deuses  da antiguidade eram muitos.
O Espiritismo  reconhece a ação de Deus na Bíblia, mas não pode admiti-la como a "palavra  de Deus". Na  verdade, como ensinou o apóstolo Paulo,  foram os mensageiros de Deus,  os  Espíritos,  que  guiaram  o  povo  de  Israel,  através  dos  médiuns,  então  chamados profetas.  O  próprio  Moisés  era  um médium,  em  constante  ligação  com lave  ou  Jeová,  o deus  bíblico,  violento  e  irascível,  tão  diferente  do  deus-pai  do  Evangelho.  Devemos respeitar  a Bíblia  no  seu  exato  valor,  mas  nunca  fazer  dela  um mito,  um  novo  bezerro  de ouro. Deus não ditou nem dita livros aos homens.

5 - COMO A PALAVRA DE DEUS FICOU SUJEITA AO HOMEM

Os estudos bíblicos se processam no mundo em duas direções diversas: há o estudo normativo  dos  institutos  religiosos,  ligados  às  várias  igrejas,  que  seguem  as  regras  de hermenêutica e a  orientação  de  pesquisas  destas igrejas;  e  há  o estudo livre  dos institutos universitários  independentes,  que  seguem  os  princípios  da  pesquisa científica e  da interpretação  histórica. O Espiritismo  não  se  prende a  nenhum  dos  dois sistemas,  pois sua posição  é  intermediária.  Reconhecendo o  conteúdo  espiritual  da  Bíblia,  o  Espiritismo 
estuda à luz  dos seus  princípios, em  harmonia com  os métodos  da antropologia cultural e dos estudos históricos.
Somente às  religiões  dogmáticas,  que  se apresentam  como  vias  exclusivas  de salvação, interessa o velho conceito da Bíblia como palavra de Deus. Primeiro, porque esse conceito  impede a  investigação  livre.  Considerada como  palavra  de  Deus,  a  Bíblia éindiscutível,  deve  ser  aceita literalmente  ou de acordo  com  a  "interpretação  autorizada  da igreja". Por isso, as igrejas sempre se apresentam como "autoridade única na interpretação da  Bíblia".  Segundo,  porque essa  posição  corresponde aos  tempos  mitológicos,  ao pensamento mágico, e não à era de razão em que vivemos.
Vimos  rapidamente as  contradições insanáveis  em  que  se afundam  os  hermeneutas religiosos.  Vêem-se eles  obrigados  a  perigosas  ginásticas  do  raciocínio,  apoiadas  em fórmulas  pré-fabricadas,  para  se  safarem  das  contradições  do  texto.  Mas  não  escapam jamais à contradição fundamental, que é esta: consideram a Bíblia como a palavra de Deus, mas  estabelecem,  para  sua interpretação,  regras  humanas.  Dessa  maneira, é  o  homem  que 
faz Deus dizer o que lhe interessa.
Há  no  meio  espírita alguns  críticos  agressivos  da  Bíblia.  São  confrades  ilustres  e estudiosos, que tomam essa posição em face das agressões religiosas à Doutrina, com base Visão Espírita da Bíblia                                                                    nos textos bíblicos. A posição da Doutrina, porém, não é essa, como já vimos em Kardec. 
As supostas  condenações  do  Espiritismo  pela  Bíblia  decorrem  das  interpretações sacerdotais.  A Bíblia é  um  dos  maiores  repositórios  de  fatos  espíritas  de toda  bibliografia religiosa.  E  os  textos  bíblicos  estão  eivados  de  passagens  tipicamente espíritas,  como veremos.

6 - TODA A BÍBLIA ESTÁ CHEIA DOS FENÔMENOS MEDIÚNICOS

 O Espiritismo é apresentado  por Kardec, sob a orientação do Espírito da Verdade, 
como uma seqüência natural do Cristianismo. É o cumprimento da promessa evangélica de Jesus,  de enviar  à  Terra  o  Consolador,  que completaria  o  seu  ensino,  esclarecendo os homens a respeito daquilo que ele só pudera ensinar através de alegorias, no seu tempo. 
 Os homens  de então  não  estavam  em  condições  de compreender  o  fenômeno  natural  da comunicação  espírita,  que  misturavam  com  sistemas  de  magia e  interpretações supersticiosas. Em A Gênese, Kardec esclarece,  no  primeiro capítulo, que era necessária a evolução das ciências, o progresso dos conhecimentos, o desenvolvimento intelectual, para que o Espiritismo fizesse seu aparecimento, como doutrina, em nosso mundo.
Assim  sendo, o Espiritismo tem como base as Escrituras, tem seus  fundamentos na Bíblia. Mas é claro que o conceito espírita da Bíblia não pode ser igual ao das religiões que ficaram  no  passado,  apegadas  às  formas sacramentais  de  magia,  aos  ritos  materiais  e aos cultos exteriores do próprio paganismo. A Bíblia não pode ser, para o espírita esclarecido, a "palavra de Deus", pois é um livro escrito pelos homens, como todos os outros livros, e é, principalmente,  um  conjunto  de  livros  em  que encontramos  de  tudo,  desde as  regras simplórias  de  higiene  dos  judeus  primitivos  até as  lendas  e  tradições  do  povo  hebreu, misturadas  às  heranças  dos  egípcios  e  babilônios.  O  Espiritismo  ensina a encarar  a Bíblia como um marco da evolução religiosa na Terra, mas não faz dela um novo bezerro de ouro.
É  difícil  falarmos  da Bíblia a  pessoas  apegadas  ao  processo  de  fanatismo  religioso de algumas seitas  obscurantistas,  que chegam,  em  pleno  século  vinte,  ao  cúmulo  de renegarem a cultura, para só aceitarem os escritos judeus da época das civilizações agrárias. 
São  pessoas simples e crentes,  que merecem  o  nosso  respeito, mas inteiramente incapazes de compreender  o  problema  bíblico.  Isso,  entretanto,  não  deve  impedir-nos  de esclarecer esse  problema à luz  dos  princípios  espíritas.  A  Bíblia  não  condena  o  Espiritismo.  Pelo contrário, a Bíblia confirma o Espiritismo, como demonstraremos. Basta lembrar o caso de Samuel,  atormentado  pelo  espírito  mau,  aliviado  pela  mediunidade  de  Davi,  que  usava a música  para afastá-lo. Caso típico  de  mediunidade curadora, constante  de Samuel  16:  14-23.  E  o  colégio  de  médiuns  que acompanhava Moisés  no  deserto? E assim  por  diante,  da primeira à última página da Bíblia. Mas o pior cego é aquele que não quer enxergar.

7  - PROFESSOR  DE TEOLOGIA  DEFENDE  A  INTERPRETAÇÃO  ESPÍRITA 
DA BÍBLIA

Numa insistência  verdadeiramente  desanimadora,  certas seitas  religiosas  que  fazem do combate ao Espiritismo a sua principal tarefa, alegam sempre que os espíritas têm medo da Bíblia. Num debate de TV, o reitor de um instituto bíblico protestante chegou a declarar aos  espíritas  presentes,  de Bíblia em  punho:  "Vocês  não  querem  ouvir a  palavra  de Deus, Visão Espírita da Bíblia                                                                         
mas hoje vão ouvir"! Na sua ingenuidade, pensava que a leitura da Bíblia poria os espíritas a correr.
Outro  pastor,  chefe  de  uma  seita  por  ele  mesmo  fundada,  escandalizou-se  quando afirmamos  que a  Bíblia  não  é a palavra  de  Deus,  e ingenuamente  perguntou-nos:  "Mas  o Senhor tem  a coragem  de  dizer  uma coisa  dessas  na  frente  do  povo  de São Paulo"? Mais tarde, esquecendo os seus deveres religiosos de honestidade e respeito à verdade, promoveu uma campanha sistemática, pelo  rádio, de desvirtuamento das nossas declarações. Pensava, 
certamente, que Deus aprovava sua "bonita" atitude.
Alguns  espíritas,  por  sua  vez,  ficaram  assustados  com  a  nossa audácia.  Achavam que  poderíamos  afastar  do  Espiritismo os  crentes  na  Bíblia.  Esqueceram-se  de  que  o Espiritismo  não  se  interessa  por  quantidade  de adeptos,  mas  pela  sua  qualidade.  Espíritas que  se assustam  com  a  verdade  sobre a  Bíblia,  estão  ainda  longe  de compreender  a Doutrina.  Foi  por isso tudo  que  resolvemos  enfrentar  o tema  durante algum tempo,  nesta 
seção1.  É  necessário  que  se  diga a  verdade,  que  se esclareça  o  povo, cm  vez  de  deixá-lo iludido  por  expressões como  "a  palavra  de  Deus",  que  servem  apenas  para  os  que  não querem estudar o problema bíblico em sua realidade histórica, religiosa e cultural.
Os  que  vivem  gritando,  de  Bíblia em  punho,  que  o  Espiritismo  é condenado  pela Bíblia,  não conhecem  uma coisa  nem  outra.  Ignoram  o  que seja a Bíblia e não têm a mais leve noção de Espiritismo. No dia em que conhecerem ambas as coisas, terão vergonha de suas acusações atuais. Se essas pessoas gostassem de ilustrar-se um pouco, indicaríamos a elas  a  leitura  de alguns  livros  de  ilustres  figuras  protestantes.  Por  exemplo,  o  livro  de Haraldur  Nielson,  teólogo,  tradutor  da  Bíblia  para  o  islandês  e  professor  de  teologia  da Universidade da  Islândia, intitulado: O Espiritismo e a Igreja2. É um livrinho pequeno, que 
ainda agora aparece em  nova edição  brasileira e está  nas livrarias.  Nesse livro,  os  nossos acusadores  terão o  testemunho  de  um membro  da  Sociedade  Bíblica  Inglesa,  que  não  se tornou  espírita,  mas  que  reconhece a  natureza  dos  livros  bíblicos.  Ele  protesta contra as afirmações,  sempre  levianas,  de  que a  Bíblia condena as  manifestações  espíritas  e as 
sessões de Espiritismo.
I.  O  autor  se  refere à coluna  que  mantinha  no  "Diário  de  São  Paulo".  2.  Livro relançado  "Edições  Correio  Fraterno",  Caixa  Postal  58,  CEP  09700,  São  Bernardo  do Campo SP,

8 - ENSINOU O APOSTOLO PAULO: A BÍBLIA É UM LIVRO MEDIÚNICO 
        
A  origem mediúnica  das  religiões  é  hoje  uma  tese  provada  pelas  pesquisas 
antropológicas e etnológicas. Só os materialistas a rejeitam. Os interessados podem estudar o  assunto  no  livro  do  Prof.  Ernesto  Bozzano,  Fenomini  Supranormali  e  Popoli  Primitivi (Edizione Europa, Verona), ou em nosso livro O Espírito e o Tempo, lançado pela Editora Pensamento,  nesta capital.  A  origem  da Bíblia é  um  capítulo  natural  desse  processo  geral que originou as  religiões. Os leitores podem encontrar material a respeito no livro do prof. 
Romeu do Amaral Camargo, De Cá e de Lá, no meu livro já citado e em Os 3 caminhos de Hécate, editado pela Edicel.
Mas  não  pense  o  leitor  que  são os  espíritas  que afirmam  a  origem mediúnica  da Bíblia.  Quem  afirmou  foi  o  apóstolo  Paulo,  quando  declarou peremptoriamente:  "Vós recebestes a lei por mistérios dos anjos", isto em Atos, 7:53, explicando ainda em Hebreus 2:2:  "Porque a  lei  foi  anunciada  pêlos  anjos",  e confirmando  na  mesma epístola,  l:  14: Visão Espírita da Bíblia                                                                         
"Espíritos são  administradores,  enviados  para exercer  o  ministério".  Antes,  em  Hebreus, l :7,  Paulo,  depois  de advertir  que  Deus  havia  falado  de  muitas  maneiras  aos  profetas, acrescenta:  "Sobre  os  anjos,  diz:  o  que  faz  os seus  anjos  espíritos  e  os seus  ministros chamas de fogo".
Está claro  que  os  anjos são  espíritos,  reveladores  das  leis  de  Deus  aos  homens, como  afirma  o  Espiritismo.  Paulo  vai mais  longe,  afirmando  em  Atos  7:30-31,  que  Deus falou  a  Moisés  através  de  um  anjo  na  sarça-ardente.  Veja-se  o  que  ficou dito  acima:  os anjos são espíritos, ministros de Deus, que o faz chama do fogo, nas aparições mediúnicas. 
O reverendo Haraldur Nielson, em seu livro O Espiritismo e a Igreja, ele que foi o tradutor da  Bíblia  para  o  islandês,  a  serviço  da  Sociedade  Bíblica  Inglesa,  afirma  que  o  Cristo  é muitas  vezes  chamado  no  Evangelho,  no original  grego,  de  "pneuma",  depois  da ressurreição.  E  "pneuma"  quer  dizer  espírito.  Da  mesma  maneira,  lembra  que  Paulo,  em Hebreus,  12:9,  refere-se a  Deus  como  "Deus  dos  Espíritos".  Lembra ainda  que as manifestações  dos Espíritos, nas sessões que  realizou com o bispo Hallgrimur Svenson em Reikjavik, eram na  forma de línguas de  fogo. Essas manifestações confirmavam que o anjo da sarça-ardente e os fenômenos do Pentecostes foram mediúnicos.
O que falta aos acusadores do Espiritismo é estudo. Se pusessem o seu dogmatismo de  lado  e estudassem  um  pouco,  haveriam  de compreender  essas  coisas.  A  Bíblia  foi inspirada pêlos Espíritos, como mensageiros de Deus, no tocante aos seus livros proféticos, que chamamos  de mediúnicos. Os livros  históricos e  de legislação civil  receberam também a colaboração dos Espíritos. A Bíblia, pois, é um livro mediúnico que não pode condenar o Espiritismo, pois estaria se condenando a si mesma.

9 - COMUNICAÇÕES DE ESPÍRITOS E MATERIALIZAÇÃO NA BÍBLIA

O  ministério  dos  anjos,  esse  ministério  divino,  a  que  o  apóstolo  Paulo  se  referiu tantas vezes, é exercido através da mediunidade. A própria Bíblia nos relata uma infinidade de comunicações  mediúnicas.  Veja-se,  por  exemplo,  as  palavras  do  rei  Samuel,  em Provérbios,  31:1-9,  que,  segundo o texto bíblico, são "a profecia com que lhe ensinou sua mãe". Temos ali  uma comunicação espírita integralmente  reproduzida na Bíblia. A mãe do rei Samuel) não em forma de anjo, mas na sua própria forma humana) aparece ao Rei e lhe dita a mensagem.
A  Bíblia condenou  essa comunicação?  Não.  Pelo  contrário,  aprovou-a e
transcreveu-a. Em Números l 1:23-25, temos a descrição de dois fatos mediúnicos valiosos. 
Primeiro, o Senhor  fala a Moisés. Depois, Moisés  reúne os setenta anciãos, formando uma roda,  e  o  Senhor  se  manifesta  materialmente,  descendo  numa  nuvem.  Temos  a comunicação pessoal de Jeová a Moisés, e a seguir o fenômeno evidente de materialização de  Jeová,  através  da  mediunidade  dos  anciãos,  reunidos  para isso  na tenda.  A  nuvem  é a formação de ectoplasma na qual o espírito se corporifica.
Só os  que  não  conhecem  os  fenômenos  espíritas  podem  aceitar  que ali  se  deu um milagre,  um  fato  sobrenatural. E podem aceitar, também, a manifestação do próprio Deus. 
Longe disso. Jeová era o espírito protetor de Israel, que se apresentava como Deus, porque a mentalidade dos povos do tempo era mitológica, e os espíritos eram considerados deuses. 
O  filósofo Tales  de Mileto já  dizia,  na Grécia, cinco  séculos antes  de Cristo:  "O mundo é cheio  de  deuses". Os espíritos elevados eram considerados deuses benéficos, e os espíritos Visão Espírita da Bíblia                                                                         
inferiores eram  deuses maléficos. Daí a invenção do Diabo, como concorrente de Deus no domínio do mundo e das almas.
Deuses,  anjos  e  demônios,  da  Bíblia,  dos  Vedas,  do  Alcorão,  de  todos  os  livros sagrados,  nada  mais são  do  que espíritos.  Como  podem  essas  criaturas  condenar  o Espiritismo?  Elas são  a  prova tradicional  da  verdade espírita,  ao longo  da  História,  como ensina  Kardec.  O  que  Moisés  condenou  foi  apenas  o  abuso  da  mediunidade.  Isso,  o Espiritismo também condena.

10-MOISÉS PROIBIU PRECISAMENTE O QUE O ESPIRITISMO PROÍBE

A condenação  do Espiritismo  pela Bíblia,  que é a mais citada e  repetida,  figura no Cap.  19 do  Deuteronômio.  É  a condenação  de  Moisés,  que  vai  do  versículo  9  ao  14.  A tradução, como sempre, varia de um tradutor para outro, e às vezes nas diversas edições da mesma tradução. Moisés proíbe os judeus, quando se estabeleceram em Canaã, de praticar estas  abominações:  fazer  os  filhos  passarem  pelo  fogo;  entregar-se à adivinhação, prognosticar,  agourar ou  fazer  feitiçaria;  fazer  encantamento,  necromancia,  magia,  ou consultar  os mortos. E Moisés acrescenta, no versículo 14: "Porque essas nações, que hás 
de  possuir,  ouvem  os  prognosticadores e  os adivinhadores,  porém a ti  o
Senhor teu Deus não  permitiu  tal  coisa".  Assim  está  na  tradução  de  Almeida,  mas  variando  de  forma,  por exemplo, na edição das Sociedades Bíblicas Unidas e na edição mais  recente da Sociedade Bíblica do Brasil.
Na  primeira  dessas  edições  (ambas  da  mesma  tradução  de  João  Ferreira  de Almeida)  lê-se,  por  exemplo:  "quem  pergunte a  um  espírito  adivinhante",  e  na  segunda: 
"quem  consulte  os  mortos".  Na  tradução  de  António  Pereira  de  Figueiredo,  lê-se:  "nem quem indague dos mortos a verdade". Qual delas estará mais de acordo com o texto? Seja qual  for, pouco importa, pois a verdade dita pêlos mortos ou pêlos vivos (estes, mortos na carne)  é  que  tudo  isso  que  Moisés  condena,  também  o  Espiritismo  condena.  Não esqueçamos,  porém,  de  que a condenação  de Moisés  era circunstancial,  pois  os  povos  de Canaã, que os judeus iam conquistar a fio de espada, eram os que praticavam essas coisas. 
Mas  a condenação  do  Espiritismo  é  permanente e  geral,  pois  o  Espiritismo,  sendo essencialmente cristão, não se interessa por conquistas guerreiras e não faz divisão entre os povos.
Kardec adverte em O Evangelho Segundo o Espiritismo, livro de estudo das partes 
morais  do  Evangelho:  "Não  soliciteis  milagres  nem  prodígios  ao  Espiritismo,  porque ele declara formalmente que não os produz". (Cap. XXI: 7). Em O Livro dos Médiuns, Kardec adverte:  "Julgar  o  Espiritismo  pelo  que ele  não  admite,  é  dar  prova  de  ignorância e desvalorizar  a  própria  opinião".  (Cap.  11:14).  Em  A  Gênese e em  O  Livro  dos  Espíritos, como  nos  já citados,  Kardec esclarece  que a  finalidade  da  prática espírita é  moralizar  os homens  e  os  povos.  Quem  conhece  o  Espiritismo  sabe  que  todo  interesse  pessoal, particular,  é  rigorosamente condenado.  Adivinhações,  agouros,  feitiçaria,  encantamentos, 
consultar  interesseiras,  são  práticas  de  magia antiga,  que  Moisés  condenou,  como o Espiritismo  condena  hoje.  Mas  o  próprio  Moisés  aprovou  a  mediunidade  moralizadora,  a prática espiritual da relação com o mundo invisível, como veremos.Visão Espírita da Bíblia
                                                                         
11  - MOISÉS PRATICAVA  E  DESEJAVA A  MEDIUNIDADE  BEM 
ORIENTADA

As pretensas condenações da Bíblia ao Espiritismo, são condenações das práticas de magia,  que  os  judeus  haviam  aprendido  na  Babilônia e no  Egito,  e  que  iriam  encontrar também em Canaã, pois os cananitas (habitantes da Palestina) como todos os povos antigos, davam-se a essas  práticas.  Mas  nos  mesmos  livros  da  Bíblia,  em  que aparecem  essas condenações,  há  numerosas  ordenações  que  os  mais  aferrados seguidores  da  Bíblia  não obedecem. Um pastor nos respondeu, em programa de televisão, que a sua igreja cumpria a
"palavra  de  Deus"  pela  metade.  O  que  vale  dizer  que a  palavra  de  Deus  é  por  ela desrespeitada.  Preferimos  cumprir  a  palavra  de  Deus  integralmente,  e  por  isso  evitamos confundi-la com as palavras humanas e com a legislação envelhecida de povos antigos.
Conforme  prometemos,  vamos  hoje  demonstrar  que  Moisés,  o  grande  legislador judeu,  médium  de excepcionais  faculdades,  não  condenou,  mas  praticou  a  mediunidade e desejava  vê-la  praticada  pelo  seu povo. Quanto à  prática  da mediunidade por Moisés, não precisamos  fazer  novas  citações.  Ele  recebia espíritos,  conversava com  espíritos,  evocava espíritos,  e além  disso  fazia-se acompanhar  no  deserto  por  uma equipe  de  médiuns, provocando  até  mesmo  fenômenos  de  materialização.  Isso  tudo  já  demonstramos.  Mas 
vamos  agora a  um  episódio  que  pastores  e  padres  não  citam,  mas  que está  na Bíblia,  em todas as traduções.
O  prof.  Romeu do  Amaral  Camargo,  que  foi  diácono  da  l  Igreja  Presbiteriana Independente de São Paulo, comenta esse episódio em seu livro espírita "De cá e de Lá". É o constante do livro de Números, Cap. 11, versículos 26 a 29. Foi logo após a reunião dos setenta médiuns na tenda, para a manifestação de Jeová.
Dois médiuns haviam ficado no campo: Eldad e Medad. E lá mesmo foram tomados e profetizavam, ou seja, davam comunicações de espíritos. Um jovem correu e denunciou o fato a Josué. Este pediu a Moisés que proibisse as comunicações.A  resposta  de Moisés é  um  golpe  de morte em todas as pretensas condenações do Espiritismo  pela Bíblia.  Eis  o  que  diz  o  grande condutor  do  povo  hebreu:  "Que zelos são esses, que mostras por mim? Quem dera que todo o povo profetizasse, e que o Senhor lhe desse  o  seu  espírito"! Comenta  o  prof. Camargo:  "Médium  de extraordinárias  faculdades, Moisés sabia  que  Eldad  e  Medad  não  eram mercenários  nem mistificadores,  não 
procuravam  comunicar-se com  o  mundo  invisível,  mas  eram  procurados  pêlos  espíritos". 
Como  acabamos  de  ver, Moisés aprovava a mediunidade  pura  que  o Espiritismo aprova e defende. Mas  o  pior  cego  é  o  que  não  quer  ver,  principalmente  quando  fechar  os  olhos é conveniente e proveitoso.

12 - JEOVÁ DAS LIÇÕES SOBRE FORMAS DE MEDIUNIDADE

Jeová  ou lave,  o Deus  de  Israel, como já  vimos anteriormente, era o Espírito Guia do Povo Hebreu. Para os povos antigos, os Espíritos eram Deuses, e o Deus de cada povo era a Divindade Suprema. Esse o motivo por que Jeová se apresentava ao seu povo como se fosse o próprio Deus único. E como se apresentava ele? Através da mediunidade, ensinando aos homens rudes do tempo as verdades espirituais que deveriam frutificar no futuro. É por isso  que encontramos,  nas  páginas  da  Bíblia,  não  só o  relato  de  fenômenos  espíritas Visão Espírita da Bíblia                                                                      ocorridos  com  o  povo  hebreu,  mas  também  ensinamentos  precisos  e claros sobre a mediunidade.
Logo  após  os  episódios  que comentamos,  com  fenômenos  de  materialização  e  de comunicações, o Livro dos Médiuns fornece-nos outros, em que vemos Jeová ensinar que a mediunidade  tem  várias  formas,  como o  ensina  hoje  o  Espiritismo.  A  Bíblia está cheia desses  ensinos,  que  só  não  vêem  os cegos  ou  os  que  não  querem  ver. Basta  o leitor ler a Bíblia,  de  qualquer tradução,  católica  ou protestante,  no  Livro  de Números, capítulo XII. 
Pode  ler  todo o  capítulo,  ou  apenas  os  versículos 5  a  8.  Nestes  versículos,  Jeová  dá aos hebreus uma das lições que só muito mais tarde apareceria de novo, mas então no Livro dos Médiuns, de Allan Kardec. Vejamo-la.
Miriam e Aarão falavam mal de Moisés, por haver ele tomado uma nova mulher, de origem cusita  (era a mulher  negra  de Moisés). Ora,  Jeová  não  gostou disso e  subitamente "desceu da nuvem", para repreende-los. Descer da nuvem é materializar-se, pois a nuvem é simplesmente a  formação  de ectoplasma,  como  a Bíblia  deixa  bem  claro  nos seus  relatos. 
Imagina-se  o  Senhor  do  Universo,  o  Deus-Pai  do  Evangelho,  fazendo  esse  papel  de alcoviteiro!  Seria absurdo  tomarmos  esse  Jeová,  sempre  imiscuído  nos  assuntos domésticos,  pelo  próprio  Deus!  Como  espírito-guia,  podemos  compreendê-lo.  E  é como espírito-guia que ele repreende os maldizentes, castiga Miriam, mas antes ensina:
Primeiro, diz ele que pode manifestar-se aos profetas  (-médiuns) por meio de visão (da  vidência)  ou de  sonhos.  Depois,  lembrando  que  Moisés  é  o  seu  instrumento  para direção  do  povo, esclareceu:  "Não é assim com o meu servo Moisés, que é  fiel em toda a minha casa", acrescenta: "Boca a boca fale com ele, claramente, e não por enigmas". 
Cinco formas da mediunidade figuram no ensino bíblico: I) a de vidência; 2) a de desprendimento, ou  sonambúlica;  3) a  de materialização;  4) a  de  voz-direta; e 5) a de audiência. 
O próprio Jeová ensinava a mediunidade, como o apóstolo Paulo, em l Coríntios, ensinaria mais tarde a fazer uma sessão mediúnica.


Leia mais http://www.espirito.org.br/portal/download/pdf/visao-espirita-da-biblia.pdf

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