José Medrado quebra tabus falando de sexualidade sob a ótica espírita

13/10/2011 0 comentários




A 55ª edição da Revista Cristã de Espiritismo produziu uma matéria especial sobre o DVD Rompendo Limites – A sexualidade na 

visão do espírita José Medrado, lançado em 2006. O DVD é composto de um debate, com classificação livre, abordando temas-tabus como homossexualidade, adultério, masturbação, viagra, pedofilia, AIDS, entre outros.


Confira a entrevista feita com José Medrado pela revista:


O que é sexualidade? Sexualidade é sensualidade? Erotismo? Sexo?


José Medrado – a sexualidade é um conjunto, em verdade, de tudo aquilo que entra no processo de relacionamento humano. Se nós formos buscar, inclusive, e você sabe bem disso como psicanalista, os princípios freudianos dizem que todo mótil humano nasce da própria sexualidade. Então, sobre a sexualidade, eu penso ser exatamente tudo o que envolve a movimentação humana dentro da vida de relação. Tudo vai ser sexualidade, sem sombra de dúvida. 




Masturbação é uma forma do exercício da sexualidade sem o contato com o outro. Como você vê e como você poderia pensar a doutrina espírita com esse tema? 
José Medrado – É interessante que muitos companheiros espíritas não se dêem conta que, quando chegam ao nosso movimento, trazem uma herança cultural das religiões dogmatizadoras muito grande. Então, começam a ajustar o saber de outras religiões ao saber espírita. A gente vê as compensações do inferno com o umbral. A gente vai percebendo que há uma necessidade de adaptação a esse novo sabe, digamos assim. E, dentro disso, a gente vê assim barbárie, como, por exemplo, falar que masturbação atrai espírito inferior e é um processo saudável quando há a necessidade de se vivenciar a sexualidade sem o outro parceiro. Se não, pode dar mesmo problemas sérios àquela pessoa.


A masturbação não é um crime, ou, usando o jargão de outras religiões, nem pecado algum. É um processo natural e que se precisa utilizá-lo mesmo, para dar vazão a essa tensão sexual que há, sobretudo, nos adolescentes. Vamos tira culpa desses meninos! Já não basta as que carregamos pelo processo cultural que estamos submetidos. Ainda querem impor aos nossos meninos e às nossas meninas essa mesma culpa. Então, a gente vai ver que ainda nas meninas isso é um tabu, uma trave, quando na verdade se trata de conhecer o próprio corpo, de se sentir no direito de se vivenciar emoções humanas naturais como o próprio prazer sexual. Então, o que atrai espírito inferior é a má conduta, o comportamento imoral e isso não tem nada a ver com moralidade, isso tem a ver com vivência saudável da própria sexualidade.


Como você vê a questão da pedofilia no uso da internet?


José Medrado – É claro que tudo se torna instrumento para se dar vazão aos processos de tumulto interior e desencontro. Então, a pedofilia está hoje na internet porque tem aquele instrumento que viabiliza aquela exteriorização da problemática sexual, que invadiu aquela alma que se estabeleceu naquela psique. Então, o que acontece: antes não tinha internet e ela existia da mesma forma. Se amanhã ou depois surgir um novo instrumento, que seja assim mais rápido e ágil para alcançar o outro, você vai ver ali também as coisas positivas e as torpezas humanas. É importante que os pais estejam atentos para o que as suas crianças estão fazendo na internet. Nós estamos mais ou menos na mesma faixa etária, então nós somos produto de uma criação repressora e nós estabelecemos o seguinte: os meus filhos, eu não vou reprimir. Eu vou deixar os meus filhos soltos e livres, porque eu não vou fazer com eles o que os meus pais fizeram comigo. Então, nós negligenciamos. Saimos de um extremo e vamos para outro extremo. Aí que entra a necessidade de uma reflexão permanente, de atualizar os nossos conceitos e estarmos atentos na condução, no direcionamento do bem e essas crianças que nos foram concedidas para que, exatamente, tenhamos esse processo de reeducação, porque seguramente colocamos, em algum momento no passado, em outras vidas, essas almas num caminho que levou a crimes, a vivências que as levaram ao sofrimento e, hoje, estamos aí com elas como filhas, filhos, sobrinhos ou o nosso caso, na Cidade da Luz com os órfãos. É apenas mais um instrumento. Mas é uma patologia daquele ser que precisa ser tratado, mas também sofrer o apenamento que a lei determina.


A pílula azul, o viagra, talvez tivesse chegado para cumprir um objetivo de melhorar o relacionamento na idade da madureza, entre os casais que já se relacionam. E acabou, por uma estatística que a gente encontra nos jornais e nas revistas, sendo causa de um grande número de separações desses casais mais maduros.


José Medrado – Hoje em dia não temos mais apenas o viagra, pois a marca virou o nome de uma ação da busca do prazer, justo e lídimo. Mais uma vez o velho preconceito! Ver dois jovens namorando é natural e todo mundo acha bonitinho. Aí, quando vemos dois senhores da melhor idade e acima dos 70 anos, pensam: dois velhos ali ao invés de irem para casa! Nós somos terríveis e perversos, pois eu vejo isso como uma perversidade! O problema não está no viagra, o problema está na relação que já não existia. Eu penso que o terceiro só entra numa relação quando há espaço e, normalmente, surge por conta de falta de diálogo. Vão se acumulando as frustrações e não utilizam o processo de sedução. Não é apenas naquele momento do namoro e do ficar hoje. Não! Isso tem que ser atualizado década a década, a cada ano e instante. Então, tem que buscar essa motivação e quebrar aqueles paradigmas do chefe de família e da dona de casa. Isso não tem nada a ver com a interferência negativa do espírito obsessor. Então, o problema não está no viagra, o problema está exatamente na relação que já estava desgastada e falida. É preciso que o casal esteja se reavaliando sempre.


Com o vírus do HIV, nós tivemos uma parada nesta liberdade sexual e uma reflexão. Do ponto de vista da doutrina espírita, como é que você vê essa questão da Aids? 
José Medrado – Quando a Aids começou a surgir no mundo, no começo da década de 80, foi aquela correria para dizer que era um castigo de Deus. Houve uma espécie de retomada de uma tentativa de colocar o sexo, de novo, como sendo algo impuro, nefasto e doentio. E se chegou até a dizer, exatamente na década de 80, que era Deus punindo os gays porque era uma doença de gay. E hoje em dia, inclusive, já se sabe que, possivelmente, o HIV tenha vindo do macaco. Então, é claro que houve uma esta parada, mas não por castigo de Deus, mas por conseqüência do próprio livre-arbítrio do homem. Não foi Deus que se meteu nesse processo. Não vamos antropomorfizar Deus e colocá-lo com as paixões humanas: você está agindo errado, vou lhe castigar! Não! Deus é uma inteligência, como os espíritos nos propõem, a causa primeira de tudo ou primária. Claro que houve essa reflexão e a necessidade de rever comportamentos.


Os espíritos fazem sexo após o desencarne? Eles conservam as vontades sexuais? 
José Medrado – Fazem. Vamos voltar ao velho conceito que a gente aprende em O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, que os espíritos são os homens sem os corpos. Então, naturalmente vão guardar os mesmos desejos e anseios. Porque a vivência sexual, sendo psicológico. Naturalmente, eles vão continuar e tentar. Se, no momento da cópula, não há aquela questão mecânica, física, vai haver perispiritual. Logicamente, da mesma forma, só que num corpo diferente, que agora vai ser o corpo espiritual. Eles continuam, sim, e alguns ainda continuam bem tarados!

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